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Crítica | O Agente Secreto — A Arte de Ser Apagado

  • Foto do escritor: Redação neonews
    Redação neonews
  • há 6 dias
  • 3 min de leitura

Entre sombras, ditadura e memórias soterradas, Kleber Mendonça Filho cria um retrato poderoso sobre o esquecimento e a resistência silenciosa que moldam o Brasil no filme O Agente Secreto


Filme - O Agente Secreto
Filme - O Agente Secreto

(Foto: Divulgação)


Kleber Mendonça Filho sempre filmou o Brasil como quem descobre um arquivo secreto e O Agente Secreto (2025) talvez seja seu dossiê mais profundo até agora. Inspirado no gênero de espionagem, o longa mergulha em uma história que vai muito além de agentes e códigos: é uma reflexão sobre a arte de desaparecer, de se tornar invisível num país que apaga suas próprias cicatrizes. Sob a atmosfera pesada do Recife de 1977, a jornada de Marcelo (Wagner Moura) é menos sobre fugir e mais sobre entender o que o Brasil insiste em enterrar.


Logo na abertura, Kleber nos apresenta um Recife melancólico, empoeirado e politicamente sufocado. A fotografia de Pedro Sotero — habitual colaborador do diretor — é magistral ao capturar a textura das ruas, das fachadas envelhecidas e da sensação de vigilância constante. Cada plano parece carregado de lembranças, como se a cidade inteira fosse um arquivo vivo prestes a ser incinerado.


imagem panorâmica de Recife na década de 70
imagem panorâmica de Recife na década de 70

Narrativamente, O Agente Secreto se equilibra entre o thriller político e o drama histórico, mas o que o diferencia é o toque pessoal e emocional do diretor. Assim como em Bacurau e Retratos Fantasmas, Kleber utiliza o gênero como ferramenta para falar sobre identidade, poder e apagamento, tanto físico quanto simbólico. O roteiro é minucioso, revelando aos poucos a rede de segredos, documentos falsificados e memórias escondidas. A cada revelação, a sensação é de estar lendo um relatório que tenta reconstruir o que o tempo e a repressão tentaram destruir.


Wagner Moura entrega uma performance contida e dolorosa. Seu Marcelo é um homem dividido: entre o medo de ser encontrado e o desejo de entender quem realmente é. Há momentos em que seu silêncio fala mais do que qualquer diálogo, especialmente nas cenas em que ele caminha por lugares que já não existem, observando ruínas de um passado que o país insiste em não reconhecer. É nessas pausas, nessas ausências, que o filme encontra sua poesia.



O elenco de apoio reforça a densidade emocional da obra. Tânia Maria, como a dona Sebastiana, traz um toque de humor e humanidade, equilibrando o peso político com momentos de respiro. Já Maria Fernanda Cândido e Gabriel Leone surgem como contrapontos representando forças que tanto ajudam quanto ameaçam Marcelo. Essa teia de relações torna O Agente Secreto mais do que um filme de espionagem: é uma história sobre sobrevivência emocional num país que, constantemente, reescreve sua própria história.


Tecnicamente, o filme é um primor. A trilha sonora discreta, a montagem precisa e o som ambiental criam uma imersão quase documental. Kleber Mendonça Filho reafirma sua assinatura como um cineasta que entende o cinema como um espaço de memória coletiva. A inclusão do cinema São Luiz, por exemplo, é simbólica e comovente, um lembrete de que o cinema, enquanto arte, ainda é o lugar onde podemos preservar o que a realidade tenta apagar.


Ao fim, O Agente Secreto deixa uma marca silenciosa, porém profunda. É um filme sobre rastros: os que deixamos, os que escondemos e os que nos são arrancados. Uma reflexão sobre como o Brasil segue lutando contra seu próprio esquecimento. E, no fundo, é também sobre cada um de nós tentando existir sem ser apagado.


Opinião pessoal: " Pra mim, O Agente Secreto é daqueles filmes que ficam ecoando depois dos créditos. Não é uma experiência fácil, mas é necessária. Saí com a sensação de que o Brasil ainda tem muitas histórias escondidas e o cinema, felizmente, segue insistindo em contá-las."


E você, o que acha que o cinema pode fazer para preservar a memória de um país?




Ficha Técnica


Nome: O Agente Secreto

Tipo: Filme

Onde assistir: Cinemas

Categoria: Thriller / Mistério

Duração: 2hs 40min


Nota 5/5



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