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Crítica | Bom Menino – Quando o olhar de um cachorro revela o verdadeiro terror humano

Redação neonews
há 2 horas
3 min de leitura

Um filme sobre medo, lealdade e a fragilidade dos laços contados pelos olhos de um cachorro

(Foto: Divulgação)

“Bom Menino” (2025), dirigido por Ben Leonberg (sob o pseudônimo Curtis Roberts), é o tipo de terror que te desarma pela ternura antes de te deixar desconfortável. Produzido pelo Shudder, o longa transforma o ponto de vista de um cachorro em uma lente para observar a solidão, a doença e a presença do mal. A proposta é ousada: contar uma história de casa mal-assombrada através dos olhos do cãozinho Indy, um Toller Retriever cheio de carisma e, pasmem, o verdadeiro pet do diretor.

A trama acompanha Todd (Shane Jensen), um homem com uma doença pulmonar que, ao se mudar para o interior com seu fiel companheiro, passa a conviver com presenças estranhas ligadas ao passado do avô. O curioso é que toda a narrativa se desenvolve pelo olhar de Indy, transformando o comum em algo profundamente simbólico. Leonberg usa a câmera como se fosse o próprio olhar do animal, e a partir desse ponto de vista cria uma atmosfera de tensão crescente, onde o medo se mistura à inocência.

(Foto: Divulgação)

Tecnicamente, “Bom Menino” é uma pequena obra-prima. Leonberg constrói a narrativa apoiando-se no Efeito Kuleshov, técnica clássica do cinema soviético que consiste em montar imagens diferentes para gerar emoções no espectador. Aqui, o olhar de Indy — ora curioso, ora assustado — combinado com cortes precisos, cria um impacto emocional que substitui com maestria qualquer diálogo. É como se o espectador aprendesse a “entender” o cachorro, não por palavras, mas por sentimentos. E essa é uma das maiores forças do longa.

Visualmente, o filme é íntimo e inquietante. As cenas dentro da casa abusam de sombras, barulhos distantes e movimentos sutis, sem recorrer a sustos baratos. A montagem, fluida e delicada, faz com que cada reação de Indy pareça espontânea. Saber que o diretor filmou por mais de um ano com seu próprio pet torna tudo ainda mais fascinante. Há momentos em que esquecemos completamente que estamos vendo uma ficção: o olhar do cachorro carrega mais humanidade do que muitos atores conseguem transmitir.

(Foto: Divulgação)

Por outro lado, o roteiro não consegue manter o mesmo fôlego do conceito. Mesmo com apenas 73 minutos, “Bom Menino” parece se alongar demais em certas passagens, repetindo situações e perdendo parte do impacto inicial. Há cenas em que a câmera se distancia demais de Indy, quebrando a imersão, e o uso excessivo de ADR (gravações de voz refeitas na pós-produção) cria um ruído artificial que destoa do realismo da proposta. Ainda assim, é impossível não torcer pelo protagonista e sofrer com o terror que o cerca.

Em um nível mais profundo, o filme nos faz pensar sobre o limite entre empatia e manipulação emocional. Leonberg caminha em uma linha tênue: será que estamos comovidos porque o cão sofre, ou porque o vemos como o último fio de pureza em meio à decadência humana? A resposta talvez seja as duas coisas. “Bom Menino” nos lembra que o amor e o medo andam lado a lado e que, às vezes, é preciso olhar o mundo pelos olhos de quem não fala para entender o que realmente importa.

“Bom Menino” é um experimento visual e emocional que, embora tropece na narrativa, conquista pelo coração. O terror aqui não está nas assombrações, mas no que elas simbolizam: a solidão, a doença e a fidelidade incondicional. Indy é o fio condutor de uma história que fala sobre amor e medo com a mesma intensidade.

Opinião pessoal: "Bom Menino me pegou de um jeito inesperado. Comecei achando que seria só um terror sobre uma casa mal-assombrada, mas encontrei um filme sobre amor, lealdade e dor. A direção é ousada, e Indy… simplesmente inesquecível. O filme me fez lembrar o que o cinema tem de mais puro: a capacidade de emocionar até quando o medo é o protagonista."

Você acredita que um filme pode emocionar e assustar ao mesmo tempo? E se o protagonista for um cachorro, isso muda a forma como sentimos o terror?