Crítica | The Last of Us – Segunda Temporada
- Redação neonews
- 27 de mai.
- 3 min de leitura
A segunda temporada de The Last of Us se resume muito bem em quando a dor se transforma em humanidade: uma adaptação que escolhe o luto no lugar da violência

(Foto: Divulgação)
A segunda temporada de The Last of Us chega em 2025 cercada de expectativas e polêmicas, consciente da missão espinhosa que tinha: adaptar um dos jogos mais marcantes da história com fidelidade emocional, mas também coragem narrativa. Sob a batuta do criador Neil Druckmann e do showrunner Craig Mazin, a série dobra a aposta do primeiro ano e renuncia, mais uma vez, ao caminho fácil da reprodução literal. Ao invés disso, opta por aprofundar a psicologia de seus personagens, humanizando-os ao extremo, mesmo que para isso precise remodelar radicalmente o que era, no game, uma jornada violenta de vingança.
Desde o episódio inicial, a série revela que sua abordagem será menos sobre o choque e mais sobre o inevitável. Ao apresentar de imediato as motivações de Abby (Kaitlyn Dever), a trama abdica do suspense e transforma o conflito central numa oposição clara e direta entre heroína e antagonista. Ao retirar o elemento surpresa — crucial no jogo —, Druckmann e Mazin criam outra tensão: a do espectador que sabe exatamente para onde a narrativa caminha, mas não como ela chegará lá. Essa escolha confere uma melancolia latente aos episódios, como se estivéssemos todos presos a um destino do qual não se pode escapar.
Essa clareza, no entanto, cobra seu preço: a série perdeu parte da ambiguidade moral que fez do jogo um marco. Abby, que nos consoles surgiu como uma figura complexa, aqui assume uma posição mais tradicional de antagonista, enquanto Ellie (Bella Ramsey) é moldada como a heroína injustiçada, diluindo a ambivalência que tanto marcou sua trajetória nos games. Em consequência, a jornada de Ellie se torna mais emocional e menos brutal; os dilemas éticos dão lugar ao luto, e a sede de vingança é temperada com doses generosas de humanidade e introspecção. A ação, já minimizada na primeira temporada, torna-se quase um elemento decorativo, aparecendo apenas em sequências pontuais — embora muito bem executadas — com hordas de infectados.
O grande trunfo da temporada permanece, mais uma vez, no elenco. Bella Ramsey oferece uma interpretação magnética, navegando entre a fúria e a fragilidade com uma verdade dolorosa, enquanto Isabela Merced transforma Dina numa das personagens mais fortes e cativantes do novo ano, praticamente assumindo o papel de co-protagonista. A química entre as duas dá sustentação emocional à temporada, compensando as lacunas deixadas pela ausência de mais ação e pela simplificação de algumas relações. No entanto, não se pode ignorar que figuras importantes, como Jesse (Young Mazino) e Tommy (Gabriel Luna), ficaram subaproveitadas, sendo relegadas a coadjuvantes sem o impacto que tiveram na obra original.
Tecnicamente, a série continua irrepreensível. A fotografia fria e desoladora traduz com precisão o mundo pós-apocalíptico, enquanto a trilha sonora minimalista, assinada novamente por Gustavo Santaolalla, reforça a atmosfera melancólica que permeia cada cena. A direção de Mazin, segura e sensível, privilegia o silêncio, os olhares e os gestos, transformando a dor e o vazio em matéria narrativa. Se na primeira temporada o foco era mostrar que o amor pode nos levar a escolhas terríveis, agora é o luto que impulsiona — e humaniza — cada ação.
Ao final desta segunda temporada, fica evidente que a série optou conscientemente por suavizar a crueldade do universo de The Last of Us em favor de um retrato mais compassivo de seus personagens. Ellie, agora menos marcada pela violência e mais pelo luto, é um reflexo disso: uma jovem que ainda se debate com a raiva, mas que começa a entender que agir por ódio só a afasta de quem ela quer ser. Pode não ser a Ellie femme fatale dos games, mas é, sem dúvida, uma Ellie mais humana e real, que nos ensina sobre a dor, a perda e a necessidade — difícil, mas vital — de seguir em frente.
Assim, The Last of Us – Segunda Temporada é, ao mesmo tempo, uma adaptação corajosa e uma narrativa profundamente emotiva. Ao rejeitar a fidelidade cega ao material original, Mazin e Druckmann constroem algo que talvez não agrade a todos os fãs, mas que, inegavelmente, expande o universo da franquia para além dos limites do console. A série não busca mais apenas contar a história de um jogo — quer ser, sobretudo, uma reflexão sobre o que nos mantém humanos quando tudo ao redor parece perdido. E nesse aspecto, triunfa com a mesma força que nos emocionou desde o primeiro episódio.
Ficha Técnica
Nome: The Last of Us
Tipo: Série
Onde assistir: MAX
Categoria: Drama
Duração: 2 Temporadas
Nota 5/5