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Crítica | A Mulher da Casa Abandonada

  • Foto do escritor: Redação neonews
    Redação neonews
  • há 9 horas
  • 3 min de leitura

Do fenômeno do podcast à tela do Prime Video, a história “A Mulher da Casa Abandonada” ganha força ao se afastar do voyeurismo e se aproximar da sobrevivência


Série - A Mulher da Casa Abandonada
Série - A Mulher da Casa Abandonada

(Foto: Divulgação)



Histórias de crimes reais sempre exerceram um fascínio quase mórbido sobre o público. Desde O Silêncio dos Inocentes, passando por figuras como Norman Bates e Leatherface, até os inúmeros documentários de true crime que invadiram os streamings, a atração pelo sombrio se mantém. No Brasil, o podcast A Mulher da Casa Abandonada, lançado em 2022, se tornou uma febre, transportando milhares de ouvintes para os mistérios escondidos em uma mansão decrépita em Higienópolis. Três anos depois, essa narrativa chega ao Prime Video em formato de série documental, mas com um diferencial fundamental: a presença da vítima.


Dirigida por Kátia Lund, conhecida mundialmente pelo impacto visual e social de Cidade de Deus, a série evita simplesmente reproduzir os episódios do podcast narrado por Chico Felitti. O audiovisual aqui serve para expandir a experiência, adicionando camadas que o áudio jamais poderia oferecer. Cores, imagens de arquivo, dramatizações e, sobretudo, testemunhos diretos transformam a narrativa em algo mais íntimo e palpável, dando corpo àquilo que antes eram apenas vozes.


O ponto mais poderoso do documentário é a presença de Hilda dos Santos, a mulher que viveu mais de 20 anos em situação análoga à escravidão nos Estados Unidos, sob o domínio do casal Bonetti. Sua fala reposiciona toda a narrativa: Margarida, antes vista quase como uma figura excêntrica e enigmática, é rapidamente apresentada como o que realmente foi — uma criminosa que perpetuou horrores. O carisma e a força de Hilda humanizam a história, tornando-a não mais sobre mistério, mas sobre sobrevivência e resiliência.


Tecnicamente, a série encontra um equilíbrio delicado entre a investigação jornalística e a linguagem cinematográfica. A montagem dinâmica dá ritmo sem recorrer à repetição exaustiva de imagens ou a recursos sensacionalistas. Há um cuidado claro em não transformar a dor em espetáculo, mas sim em reflexão. As dramatizações, usadas com parcimônia, não pesam, mas ajudam a contextualizar situações, reforçando a imersão sem cair no artificialismo.


Outro mérito é a decisão narrativa de não se prender demais ao perfil de Margarida. Enquanto muitos produtos de true crime gastam tempo alimentando a curiosidade sobre a mente criminosa, A Mulher da Casa Abandonada inverte a lente: mostra as consequências da espetacularização do caso e depois devolve o foco àqueles que mais importam. O documentário não suaviza os horrores vividos por Hilda, mas também não permite que eles sejam tratados como mero entretenimento de sofrimento.


O trabalho de Kátia Lund e sua equipe consegue, assim, unir os dois mundos: o rigor investigativo do podcast de Chico Felitti e a potência visual do cinema documental. Essa fusão faz com que a obra seja complementar, não apenas um “remake” audiovisual, mas uma expansão que encontra sentido próprio. O espectador, que poderia temer encontrar apenas uma repetição da história, descobre novos ângulos, novas emoções e uma profundidade maior.


No fim, A Mulher da Casa Abandonada (2025) é mais do que a adaptação de um fenômeno cultural. É um acerto em forma de narrativa, capaz de respeitar a dor da vítima enquanto mantém a força jornalística que deu origem ao interesse nacional. Com Hilda dos Santos finalmente tendo espaço para sua voz, a série deixa de ser apenas um relato sobre crime e passa a ser uma obra sobre dignidade, sobrevivência e memória. É uma produção que prova que o true crime, quando bem conduzido, pode ir além da curiosidade mórbida e se transformar em ferramenta de conscientização e humanidade.




Ficha Técnica


Nome: A Mulher da Casa Abandonada

Tipo: Séries

Onde assistir: Prime Video

Categoria: Documentário

Duração: 1 Temporada


Nota 4/5



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