Sob o domínio do bem.
O que você encontrará nesta crônica:
Davi e o gigante Golias representam o que em nossas vidas?
A sempre luta do bem e do mal em todos os campos desse mundo, é travada também dentro cada um de nós. Presos ainda no velho e insistente egoísmo, que cega, paralisa e impregna com dores as nossas almas.
Classificando os seres humanos numa escala evolutiva, podemos afirmar que suas respostas instintivas carregam uma propensão a atos, conforme a faixa a que se encontram num dado momento.
Davi é o vencedor final, mas Golias esbraveja e jamais se entregará sem lutar.
Onde se encontra a nossa atual história, dentro da história de Davi e Golias?
I. Confronto de Davi e Golias.
Numa época em que ainda nem imaginávamos a internet e tampouco os celulares, tínhamos as classes de estudos bíblicos, e entre elas, as de infanto-juvenil. Atividades que hoje estão rareando cada vez mais, privando nossas crianças do contato com os ensinamentos sagrados, e por consequência, limitando também a prática do filosofar.
Nessa época, portanto, as salas continham lousa e giz, mesinhas com muito lápis de cor, cadernos e cartolina. E como seguiam uma linha cristã, imagens de Jesus compunham a decoração da sala.
Uma missionária, coordenadora dos estudos, estava expondo sobre a luta de Davi e Golias. Sobre a mesa um farto material de imagens pintadas em cartolinas. Com um tipo de velcro no seu verso, as peças iam sendo fixadas num grande quadro, conforme o decorrer da história. Com paciência e pausadamente ela explanava. Sua narrativa cheia de muita expressão, prendia a atenção das crianças.
Observei a mudança de fisionomia das crianças, quando o gigante foi atingido por uma pedra. Foi visível e claro a satisfação delas com a vitória do bem, não havendo quem questionasse sobre os sentimentos do gigante Golias, que caiu com a pedrada recebida.
Mas, uma garotinha por volta dos seus cinco anos, com um ar interrogativo e melancólico pergunta:
- “Tia, porque eles brigaram?”
- “É uma luta entre o bem e o mal”, explica ela.
- “Papai grita com a mamãe e jogou nela a chave do carro. Eles brigam também.”
Ambos, ficamos mudos por alguns instantes, pelo profundo questionamento que aquela criança já trazia em seu interior. Como poderia naquela idade, entender as complicadas razões de discórdia dos adultos?
Embora todos nós já tenhamos gravado na nossa consciência essa dicotomia, esses opostos bem e mal, necessitamos despertar do estado adormecido a que fomos colocados. As nossas vidas são construídas através de contínuos processos de aprendizado, e gradativamente vamos incorporando e entendendo o bem e o mal.
A garotinha que trouxe a questão das brigas dos pais, despertou em um outro garoto uma maldade que presenciara na casa de um amigo. Afirmou ele que um dos meninos apedrejou e chutou um cachorrinho, e quando da tentativa dos outros meninos o impedirem, ele esbravejou e riu comprazendo com o ato cruel. E o garoto imitava o menino mau, gesticulando com os braços, as pernas, e mudando sua fisionomia; criando um alvoroço de opiniões que tomou conta das crianças. Aquela propícia situação desencadeou um saudável debate, em que muitos sentimentos aflorados puderam ser exemplificados.
Golias, um simbolismo que se repete por toda a história. Quem é Golias, ou melhor, o que é Golias?
Conteúdo ou aparência? Ele está no meio em que vivemos ou dentro de cada um de nós?
O que seria o bem e o mal?
Muitos poderão afirmar que o bem ou mal diferem segundo valores individuais. Muitos poderão dizer que o que é bom para um, pode não ser para o outro, e vice-versa.
Muitas das vezes, o bem que se quer em determinado momento, não está no tempo ideal de se acontecer, podendo gerar conflitos e ser confundido com o mal, resultando em dúvidas e frustrações.
Se ampliarmos nossas visões, podemos concluir que tudo e todos nós, indistintamente, somos regidos por uma Lei Maior, Leis Divinas, Leis Universais. São elas que norteiam, se mantendo como eixo para uma vida de retidão. Portanto, não é difícil concordar que tudo aquilo que está de acordo com as Leis Divinas, é o bem. Cabendo ao mal, o que de contrário estiver com essas Leis.
Compete a cada um de nós a tomada de consciência, o despertar, e a postura correta envolvendo qualquer e cada escolha a ser seguida.
- “Tia, a pedra do Davi era forte igual uma espada né?...” questionou assim um garoto de uns dez anos.
Nesse momento, ela se conteve e apenas balançou a cabeça de forma afirmativa. Depois, acrescentou que a pedra seria igual a qualquer outro objeto, ou mesmo algumas simples palavras de agressão ou incentivo a um amigo. Que ao atingir a testa poderia fazê-lo cair, ou somente despertar da sua situação. Talvez até levando ao reconhecimento de seus erros, admitindo os equívocos, e retomando um outro caminho.
II. O mal.
Do ponto de vista da Filosofia, inclusive a de Platão, o mal absoluto não existe. Existe apenas um único Absoluto, que é o nosso Criador. Criar a hipótese de haver outro absoluto, faria dos dois apenas relativos; seria portanto, negar a existência do Criador.
Podemos dizer que o mal não tem existência real. Como ele é o resultado de uma ação equivocada, do não bem, não tem como existir por si só. Somente do homem procede o mal.
A justiça platônica nos diz que se cada coisa está em seu devido lugar, não existe o mal.
Existirá o mal uso das coisas. O dinheiro poderá comprar um prato de comida, assim como comprar um tanto de droga ilícita. É culpa do dinheiro, ou do mal uso que se faz dele? Uma faca é boa nas mãos de um chef de cozinha, mas má e perigosa nas mãos de um assassino. É culpa da faca ou do mal uso que se faz dela?
Sabemos que o bem, por natureza, habita a nossa essência, mas e o mal, ele coexiste dentro de nós?
Se considerarmos e classificarmos os seres humanos numa escala evolutiva, podemos afirmar que suas respostas instintivas carregam uma propensão a atos, conforme a faixa a que se encontram naquele momento. Por aspectos de ignorância ou por aspectos de falta de conhecimento, o mal pode se apresentar nas suas atitudes, onde elementos utilizados de forma imprópria resultam em erros e equívocos. Se desta forma analisarmos, podemos dizer que o mal vive dentro de nós, e aflora em momentos inesperados e difíceis.
Há também, aqueles que se comprazem com o mal, onde sua decorrência já não parte da ignorância. Prejudicam os outros provocando dores alheias, tendo como única linguagem o seu próprio egoísmo. Podemos dizer que essas, são escolhas conscientes da prática do mal.
O mal será sempre um inferno em suas vidas, e jamais permitirá que se adentrem numa vida de alegrias.
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III. O bem.
Ter a força de vontade de não fazer o mal, e por outro lado, perceber e estar atento ao bem que podemos fazer. Quantas vezes não fazemos o bem porque simplesmente não queremos? Ou por conveniências que acreditamos não nos servir?
Tanto um quanto outro é tarefa que exige não só discernimento, mas disposição e boa vontade.
E assim avançando, os nossos valores vão se aprimorando e se refinando; e muitas das coisas que outrora faziam sentido, hoje já não fazem mais. À medida que um consenso é gerado pelas pessoas, vai-se moldando e se apresentando uma nova realidade.
Hoje, uma diferente expressão se revela, diante dos rumos a que estamos caminhando. Pelo fato das coisas do bem não fazerem alarde, e não necessitarem de holofotes para serem vistas, nos dá a impressão de que o que impera é o mal. O mal que a grande mídia vende é divulgado e difundido facilmente. As calamidades, os crimes, espalhando medo e angústia através de suas expressões bombásticas, infelizmente ainda alimentando as mentes a elas ligadas.
No entanto, nesses mesmos tempos a que estamos inseridos, há um processo pelo qual estamos passando, não somente os seres humanos como todo o nosso planeta, onde se percebem momentos de importantes movimentos e realinhamentos.
As movimentações acontecendo numa crescente positiva, mostram sinais de transformações internas. Transformações que se iniciam individualmente, um a um, passando a se irradiar e constituir um coletivo cada vez maior. É mais que chegado o tempo de mergulharmos no nosso eu profundo, trazendo o que de melhor há em nós, identificando a frequência e a sintonia, para assim serem alinhadas ao que desejamos nos conectar. Concretizando então, a busca na aprovação silenciosa do nosso Eu Superior.
É perceptível que as estruturas globais constituídas de injustiças e opressões, caminham cada vez mais em direção a um colapso. Aos que já estão enxergando tal realidade, é como se as Leis Universais estivessem sido reposicionadas, de posse absoluta de seu poder, e prontas para se fazer imperar, sem mais lentidão, sem mais tantas interferências, e numa velocidade antes não imaginada.
O processo do bem se expande e é irreversível, cada vez mais se estreita o espaço para o mal.
Mesmo não aparentando, o mal, suas trevas e sua escuridão, encolhem diante e perante do avanço da Luz, que se exponencia a cada consciência desperta.
Diante dos olhos de todos, e assumindo uma grande velocidade, podemos notar estruturas antes rígidas, desmoronando. O inimaginável acontecendo, e cada vez mais na claridade da luz do dia.
Podemos atestar o grau da velocidade atual, até mesmo através do nosso ilusório tempo linear, que está tremendamente mais rápido. Num piscar de olhos o dia vira noite, a noite vira dia, e os meses lá se vão, sem que nem nos apercebamos.
Ainda em meio ao saudável debate, aquela mesma menina que questionou a briga dos pais, desabafa que seu pai é bravo e grita muito; e pergunta se ele pode ser derrotado como o Golias. Mas complementa, que mesmo ele sendo tão bravo, não teria coragem de atirar uma pedra nele.
De que maneira podemos vencer como o Davi?
Davi, invertendo-se as sílabas temos Vida. A Vida que habita em cada um de nós.
Criatura pequena perante o gigante, mas cuja fortaleza recai na consciência de ser um verdadeiro rei.
Olhar claro, passos firmes rumo ao propósito a ele confiado.
O caminhar fundamentado dentro de si e não para si, fortalecendo e sobressaindo a nobreza existente na natureza humana. A perseverança na compreensão direta, superando quão tempo seja necessário.
O pequeno Davi na sua saga, vence algo que na mente limitada e ilusória, se mostrava como um inabalável e inatingível ser gigante.
Davi é o vencedor final, mas Golias seu gigante inimigo mal, é enfurecido e não se entrega sem luta.
A luta do bem e do mal que se trava dentro cada um de nós, presa ainda no velho e insistente egoísmo, que cega e paralisa, impregnando com dores as nossas almas. Se desejarmos viver com alegria, necessário será acabar com a falta do bem. Esse bem que está diretamente ligado à fonte de bem-estar, certamente se desdobrará por consequência, em curas, em saúde, em felicidade, a tão sonhada e almejada felicidade.
Como numa prova final, chegará a hora de cada aprendiz ser avaliado, revelando assim todo o seu desempenho e aproveitamento. A luz da sua memória trará todas as lembranças, dia por dia, restituindo em forma de colheita, todo o plantio feito ao longo do seu caminho percorrido. Quanto mais intimidade tenha tido com a vivência na simplicidade do amor, com os princípios da verdade, e os seus atos de bem espalhados; tanto mais feliz será o resultado de sua avaliação.
Tanto mais preenchido estará o seu coração, para integrar na sua alma a sua história feliz.
Recado da redação
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Esta é uma obra editada sob aspectos do cotidiano, retratando questões comuns do nosso dia a dia. A crônica não tem como objetivo trazer verdades absolutas, e sim reflexões para nossas questões humanas.
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