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Crônica #120 | Como anda a sua vida?

Foto do escritor: Redação neonewsRedação neonews

O olhar pela linha do retrospecto.


Capa da Crônica #120 | Como anda a sua vida?
neOriginals Crônicas

O que você encontrará nesta crônica:


"No calendário ocidental, Natal e Ano Novo simbolizam renascimento e renovação, pilares essenciais de todo recomeço. Nesse palco, vivenciamos a experiência que nos leva a avaliar o caminho percorrido, enxergando o passado como preparo para novos inícios. A renovação, contudo, depende de cada um, individualmente. Exige alinhar as ações ao nosso sentido de vida e ajustar a direção correta. Fazer as pazes conosco e com a vida nos revela que o verdadeiro propósito está no campo do ser. Afinal, o ter é apenas consequência, não causa.


O que desejamos ser? O que estamos dispostos a fazer para isso?"


 


I. No centro da plateia.


Havia chegado o momento de sair de cena. Era hora de deixar o palco, onde tantas vezes tentamos protagonizar para plateias imaginárias, e, enfim, nos acomodarmos em um lugar na plateia. Ali, não para sermos meros espectadores, mas para testemunhar e assistir a uma obra única: um filme singular chamado "Eu!", um retrospecto da vida.

 

O ingresso, tão simbólico quanto enigmático, custara apenas uma moeda. De um lado, a moeda trazia a imagem de um universo em expansão; do outro, a estrela de Belém, o guia da era do amor e da renovação espiritual. O que revelariam esses dois lados? Talvez fossem símbolos complementares de uma jornada: o amor que floresce no interior e se projeta rumo ao infinito, em busca de conexão e harmonia cósmica. E o troco, garantiram que virá ao final da sessão. Diante dessa promessa, um tanto enigmaticamente sugestiva, aceitamos sem questionar. Poderia ser suficiente para compensar esse estranho desafio?

 

Com o ingresso em mãos, fomos acompanhados por um Lanterninha até o local indicado. Esse guia, uma figura serena e quase invisível, conduziu-nos por um longo corredor que parecia interminável, até a sala destinada. Ele caminha à frente, carregando uma pequena luz, suficiente apenas para iluminar os passos necessários e imediatos.


Quem seria esse guia silencioso? Alguém externo ou um reflexo daquilo que sempre esteve ao nosso lado, mas que só agora conseguimos enxergar?

 

Não por acaso, por alguma razão ou por merecimento, o assento estava reservado exatamente no centro da plateia. Dali, do coração da sala, seria possível enxergar tudo de forma nítida e imparcial. Os demais assentos seriam preenchidos à medida que o filme se desenrolasse.

 

Já posicionado, a ansiedade cresce à medida que a música ambiente diminui. A sala é tomada pela ausência de luz. Por um momento, no breu, aquela ansiedade se torna quase uma presença física, como se o breu se tornasse maior do que todos nós. 

Sentimento confuso, insegurança e medo. O que o breu revela que a claridade esconde? Será que o escuro nos assusta porque nos obriga a enxergar o que evitamos? Será que a ausência de luz é um convite para olhar para dentro, para aquilo que insistimos em não enfrentar?

 

Quando chegamos, não havia ninguém, mas agora, surpreendentemente, as poltronas à frente estão todas ocupadas por pessoas. Todas de costas, presenças enigmáticas que não interagem, mas também não estão ausentes. Seriam elas espelhos de nossas próprias escolhas, aquelas que ainda não tivemos coragem de enfrentar, ou testemunhas silenciosas da nossa história, imersas no início da sessão? Estariam ali assistindo ao próprio filme ou para nos lembrar de que nossas vidas estão todas interligadas?


 


Il. No princípio de tudo.


A música suave que tocava antes do filme vai se apagando, como se as ilusões ao redor desmoronassem. E então, a claridade do projetor rompeu o vazio, revelando o início do filme: um espaço escuro que se desdobrava em um som familiar, um eco reconfortante que parecia vir da própria mente, conversando com nosso interior. O filme tomava forma, sem diálogos, mudo, silencioso, em preto e branco. E o tempo parecia se acelerar. Nós, ao mesmo tempo protagonistas e observadores, assistíamos às cenas do início.

 

O primeiro som que rompe não vem da tela. A trilha sonora não havia sido composta por instrumentos, mas por silêncios preenchidos de significado e sons que reconhecemos como ecos do próprio coração. Ele ecoa dentro de nós, como um sussurro vindo de algum canto escondido da alma, despertando o sono da nossa mente, como se o silêncio ganhasse voz em um diálogo com nossos pensamentos mais secretos. Será que o som da vida está em cada batida do coração que acelera ao lembrar, ou nos silêncios que guardam verdades não ditas? Quando foi a última vez que paramos para realmente escutar o som de nossa alma? E o eco, algo quase inexplicável, parecia carregar algo sagrado, que pulsava entre o familiar e o desconhecido, entre o agora e o eterno. E então a escuridão do ventre reverbera uma voz suave, de alguém que espera, com carinho, nossa chegada. Como uma oração, sentimos as doces palavras: "Que a vida do meu bebê seja iluminada."

 

E então, rimos ao ouvir o primeiro choro: um grito que surpreende a todos - um grito de liberdade ou de coragem diante deste mundo. Fica a dúvida. Diante disso, o riso é contido, talvez até pela presença dos outros espectadores sentados abaixo de nós. A vergonha surge logo em seguida, expondo palavras e sons sem sentido, como se não tivesse limites. Aos poucos, percebemos que precisamos aquietar-nos, e esse sentimento se reflete nas batidas aceleradas do coração.

 

As primeiras cores não demoram a aparecer: ainda suaves, em tons pastel. Rapidamente, as imagens borradas surgem na tela, sinalizando a fase dos "porquês", ainda na doce infância. As cores, então, vão se intensificando. O coração suspira enquanto outras formas surgem - com suas emoções pulsantes, muitos saltos indo e vindo na adolescência.


 


lll. O uivo do lobo.


A trilha sonora acompanha, vibrando entre risos e temores. Mas não tardou para que pinceladas escuras invadissem a tela. A vida adulta chega como um lobo na noite, com um uivo cortante que ecoa dentro de nós – é o chamado das verdades que insistimos em ignorar. Enganos, culpas, arrependimentos, relacionamentos conflituosos, promessas quebradas, traições. Pensamentos turbulentos se misturam, enquanto pinceladas grotescas de tinta escura continuam na tela, expondo e revelando o desejo de pôr fim a muitas coisas.

 

Não fuja, “assista, apenas assista.”

 

Talvez, ao encarar essas pinceladas descompassadas, possamos descobrir que a tela nunca se fecha por completo e ainda aguarda novas cores. O lobo, afinal, não traz apenas uivos; ele carrega também a coragem de proteger aquilo que ama, com a sabedoria da união e a força dos recomeços.

 

Tudo se manifesta em sons: grunhidos, gritos, risos e choros reverberam pela sala, intensos como a própria vida. Desde o primeiro choro até os primeiros passos, passando por todos os tropeços inevitáveis, a vida se desenrolava diante dos nossos olhos, sem possibilidade de intervenção. Mas e se pudéssemos intervir? O que mudaríamos? Ou será que aceitaríamos que tudo, até mesmo todas as falhas, pequenas e grandes, tiveram uma razão de ser?

 

Não havia controle remoto para pular as partes desconfortáveis ou acelerar os momentos de espera. A vida, em sua essência, não oferecia atalhos, nem pausas convenientes. E ali estavam todas as fases das inquietações: as dores que tentamos esconder, as alegrias que ousamos não celebrar plenamente, como se fossem pouco merecidas ou grandiosas demais para nós.

 

O que estaria significando ser um espectador da própria vida? A dor, o choro, a tristeza, o riso, a alegria, o desespero, o alívio, as orações, os agradecimentos... Cada cena carregava seu próprio peso e seu significado único. Então, talvez estivéssemos percebendo que, às vezes, o ato mais desafiador e transformador é a simples observação diante da impossibilidade de mudar o que já foi feito. Há algo profundamente transformador nesse ato de testemunhar.

 

Talvez estivéssemos encarando a verdade nua e crua e percebendo que nem sempre somos, o tempo todo, os autores do enredo, mas sempre somos responsáveis pela interpretação. Somos nós, então, os intérpretes das histórias que nos atravessam. E assim, talvez acolhêssemos muitas como foram ou resistíssemos às que nos desafiaram.

 

Talvez testemunhássemos sem a pressa de controlar o próximo ato, entendendo que a coragem não está nesse controle, mas na aceitação do que se desenrola diante de nós.

Ou seria, ainda, nesse momento de nos enxergarmos de fora, assistindo ao filme cujas escolhas já foram feitas, de percebermos que o roteiro da vida nunca vai deixar de surpreender e, portanto, que ainda nos surpreende?

 

Cada cena continha um espelho implacável, refletindo todas as nossas forças e todas as nossas fraquezas, escancaradamente. O filme é honesto. Cruelmente honesto.

 

E algo sussurrava: “Assista. Apenas assista.”


 


lV. Amor-próprio.


Tudo aquilo que parecia tão distante agora pulsava diante dos nossos olhos, como se cada som reverberasse dentro de nós. Os sentimentos se expandiam a cada cena. Os instantes que pareciam insuportáveis foram ganhando contornos de aprendizado. Sentíamos o peso do passado, mas também o alívio dos desafios superados. Os outros espectadores permaneciam imóveis.

 

Quando, finalmente, as luzes voltaram a acender, as respostas começaram a se formar. Quem vendeu o ingresso? Quem guiou o caminho? Quem ocupou os assentos ao redor? A resposta não veio com um estardalhaço, tampouco era gritante, mas uma certeza suave, como uma brisa, um sussurro no fundo da alma, algo que tocava o íntimo, deixando espaço para que cada um a encontrasse à sua maneira. No fundo, talvez o filme não fosse sobre erros ou acertos, nem sobre o que foi vivido ou deixado de viver. Talvez fosse apenas sobre reconhecer o som da vida, sobre o que aprendemos ao observar, ao ouvir e ao aceitar, saboreando a própria alma e entendendo que, mesmo na plateia, ainda somos parte da grande obra.

Surgia agora, uma percepção mais suave das mãos que, antes despercebidas, haviam estado ao nosso lado naqueles momentos em que imaginávamos sucumbir.

 

Se tivéssemos uma nova chance de assistir, será que veríamos com os mesmos olhos? Ou a experiência já teria mudado a forma como enxergamos nossa própria história? Quando a sessão chega ao fim e o troco nos é devolvido, ele não vem em moedas, mas em percepções. Pequenos momentos de clareza que antes estavam dispersos agora se juntam, revelando algo novo. E então, nos perguntamos: “Será que o verdadeiro pagamento não foi a coragem de assistir? Ou a consciência de que, no fim, não somos apenas espectadores? Que somos, na verdade, a própria obra.


Mudaríamos a história, se pudéssemos? Ou percebemos que a grande beleza da vida está em como ela nos transforma, mesmo quando não temos o entendimento de tudo?

 

E, no meio disso tudo, algo parecia sussurrar, quase como uma suave prece: “Bem-vindo ao agora.” Porque, muitas vezes, é esse simples gesto de permanecer, de observar, de estar plenamente presente, que nos impulsiona a seguir adiante. Afinal, nossa história não é estática; ela continuará a ser escrita por nós, a cada olhar renovado, a cada nova interpretação.

 

E é no som da vida, com o entrelaçar de suas notas dissonantes, que se compõe e se revela a verdadeira sinfonia de nossa existência, formada não apenas pelos momentos harmoniosos, mas pela rica complexidade de tudo o que nos atravessa. Talvez a vida funcione como a luz discreta do Lanterninha, que nunca ilumina tudo, apenas o necessário para encontrar o próximo passo. Será que enxergar mais do que precisamos não nos roubaria a chance de aprender no tempo certo?

 

Talvez nossa verdadeira força de transformação vá além da simples aceitação de quem somos. Não estaria na capacidade de nos respeitarmos, celebrando nossas qualidades e entendendo as limitações? Em um processo contínuo, que exige paciência, compaixão e, acima de tudo, disposição para aprender com os próprios erros e acertos. Porém, sempre com um olhar mais gentil e acolhedor sobre nós mesmos.

 

Sim, com ele: o amor-próprio, nossa base essencial para a transformação, como uma semente que, ao ser cuidada com carinho, floresce na plenitude de nosso ser.


 


 

Time Crônicas




 

Comunicado neonews


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Esta é uma obra editada sob aspectos do cotidiano, retratando questões comuns do nosso dia a dia. A crônica não tem como objetivo trazer verdades absolutas, e sim reflexões para nossas questões humanas.


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