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Charles Hatfield | O homem que “invocava” chuva e quase destruiu San Diego

Conheça a história de Charles Hatfield; o “acelerador de umidade ambulante” que prometia controlar o clima e causou um dos maiores desastres naturais da Califórnia


Conheça a história de Charles Hatfield; o “acelerador de umidade ambulante” que prometia controlar o clima e causou um dos maiores desastres naturais da Califórnia
Charles Hatfield

(Foto: Divulgação)


Charles Mallory Hatfield nasceu em 1875, no Kansas, e começou sua vida como um simples vendedor de máquinas de costura. Mas foi seu interesse pela pluvicultura que o levou a uma carreira controversa como “invocador de chuvas”. Autodenominado um “acelerador de umidade ambulante”, Hatfield desenvolveu métodos próprios para produzir chuva, movendo-se na linha tênue entre ciência e fraude, motivado pela chance de ganhar dinheiro fácil com o desespero dos agricultores.


Seu primeiro grande sucesso veio em 1902, quando ele usou uma combinação de 23 produtos químicos em um tanque de evaporação para formar nuvens e provocar chuva. Com isso, Hatfield começou a cobrar dos agricultores valores como US$ 50 por cada precipitação. Logo, seu preço subiu, chegando a uma taxa fixa por cada polegada de chuva que conseguisse atrair. “Eu não faço chover. Seria uma afirmação absurda. Simplesmente atraio nuvens e elas fazem o resto”, disse Hatfield sobre suas habilidades.


Apesar de operar em um campo próximo à pseudociência, o sucesso de Hatfield foi suficiente para que, em 1915, a Câmara Municipal de San Diego solicitasse seus serviços para encher o Reservatório do Lago Morena. O acordo era claro: US$ 10.000 para fornecer até 50 polegadas de chuva ao longo do ano de 1916. Hatfield começou seus trabalhos em janeiro, com uma torre de evaporação química próxima ao reservatório, e em apenas cinco dias as chuvas começaram a cair.


O que parecia uma façanha científica se transformou em tragédia. Em 27 de janeiro, a chuva foi tão intensa que a barragem de San Diego rompeu, inundando a cidade. Casas, pontes e represas foram destruídas, resultando em 50 mortes e prejuízos estimados em US$ 650.000 em estruturas rodoviárias e US$ 1.500.000 em perdas agrícolas. O evento ficou conhecido como a “enchente de Hatfield” e transformou o criador de chuvas em alvo de ódio e ameaças de morte.


Apesar de alegar que havia cumprido sua parte do contrato, Hatfield nunca recebeu os US$ 10.000 prometidos. O caso foi levado aos tribunais, e em 1938, uma decisão determinou que a enchente foi um “ato de Deus”, isentando Hatfield de responsabilidade. Com isso, ele não recebeu nenhum pagamento pelo serviço, e a reputação de seu método foi questionada.

Mesmo assim, Hatfield continuou a oferecer seus serviços até a Grande Depressão, quando voltou a vender máquinas de costura. Ao longo de sua vida, ele afirmou ter sido bem-sucedido em mais de 500 ocasiões, o que levou muitos a acreditarem que, embora fosse um “criador de chuvas” duvidoso, era um excelente previsor do tempo.


A história de Charles Hatfield é um curioso episódio de ousadia e desastre, que reflete o fascínio e os perigos de se tentar controlar a natureza. A linha entre ciência e engano, por vezes, é tão nebulosa quanto as próprias nuvens que ele dizia atrair.


 



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