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  • Foto do escritorOtavio Yagima

Crônica #79 | A linguagem da vida.

Ecos do passado na vida presente.



I. A família.


Havia acabado de passar por debaixo de um viaduto da Avenida 23 de Maio, cidade de São Paulo; e parei num posto de gasolina próximo dali, para abastecer o meu carro. De repente, um grande movimento se fez com a presença de um caminhão do município, viaturas policiais, e do comando de tráfego. Homens com capacetes, armados e equipados de cassetetes, se movimentam em torno das duas ou três famílias que ali, sob a ponte, faziam morada. Percebeu-se de imediato que tinham o objetivo de tirá-las dali.


Não consegui perceber se havia a presença de serviço social. Transparecia ser o cumprimento de uma ordem, de alguma lei. Nada nem ninguém ousou manifestar algo. Cada profissional cumprindo suas funções sob a ordem recebida.


Rapidamente o trânsito ficou caótico, apenas uma faixa estava livre para a passagem de veículos. O homem que comandava o trânsito, aos gritos, pedia que os motoristas acelerassem na tentativa de aliviar o local.


Apressadamente, um homem coloca os pertences da família num carrinho de supermercado. Seus filhos, duas meninas e um menino se aglomeram ao lado da mãe.


As tendas improvisadas com lonas de plásticos foram desmontadas. Tudo era lançado para dentro da carroceria do caminhão. Nada restou, nem mesmo as coisas colocadas apressadamente dentro do carrinho de supermercado, nada foi poupado.


Não restou para aquelas famílias, senão os pertences pessoais como as roupas. As crianças cada qual com seu brinquedo na mão; a menina menor com uma boneca, a outra com um bicho de pelúcia. O adolescente com uma mochila preta, aliás antes vistoriada por um dos homens e liberada, a coloca nas costas. Ele segura também os dois cães que latem, desesperadamente, contra os homens ali presentes; sem entender o ocorrido e na ânsia de defender os seus donos. Com coleira improvisada e sem roupinhas, apesar do frio de uma leve garoa, daquele dia nublado. Suas casinhas desprezadas, viraram entulho.


Foi uma ação muito rápida. Num abrir e fechar de olhos, o destino daquela família parecia estar selado. Fiquei a imaginar o que se passou pela mente de cada uma daquelas pessoas, e como de fato seria selado ou gravado internamente, cada desígnio daquele dia. Na mente do pai, da mãe, e na mente de cada uma daquelas crianças.


 

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II. Intempéries da vida.


Os nossos pensamentos sempre diferem, em algum nível, de qualquer outra pessoa. Nenhum pensamento será sentido, da mesma maneira e na mesma proporção de igualdade, por duas pessoas; por mais que sua forma e conteúdo coexistam entre elas. Seríamos meros robôs se tudo fosse absolutamente igual.


Nas diferenças de matérias ocorrem os atritos. O movimento e sua resultante dependem do plano que estamos, ou mesmo da sua rugosidade. No andar sobre o gelo ou sobre um piso de concreto, há de existir uma resultante diferente. Portanto, a rugosidade da vida, tem o propósito de proporcionar uma chamada e provocar um impulso, seja ele fraco, grande ou forte, não importa o quanto, para sair de um movimento e entrar em um outro.


As intempéries da vida, estabelecendo e chamando para novas atitudes de escolhas, provocando forçosamente a abertura de novos olhares. Independentemente de qualquer realidade que se apresente, a vida precisa e deve continuar.


Após o local ser esvaziado, com a retirada das famílias e tudo o que ali tinha, tudo quanto restou de sujeira foi banhado e lavado com fortes jatos de água.


Minha mente estava acelerada, não cabia em si com tantos questionamentos que brotavam, e brotavam sem muito critério.


Cada vez que passamos por situações delicadas, notamos que as opiniões de cada um divergem em variados graus. Muitas vezes nos perdemos diante dos complexos movimentos que se formam, tentando chegar a um entendimento. Muitos que ali estavam e presenciaram as cenas, opinavam conforme suas visões.


Aquelas famílias que ali moravam, independente de suas condições, estavam sendo colocadas em um outro caminho, devido à interferência de uma determinada situação.


Se não tivessem sido obrigadas a sair, talvez continuassem num tipo de inércia de sonhos, onde não caberia conquistas de novos lugares físicos, ou mesmo novas posturas mentais. Uma posição cômoda e inerte pode significar o início de um fim. Ao passo que se isso for reconhecido, a dinâmica da vida toma forma na sua grandeza, colorindo e se tornando interessante para se seguir.


Aparentemente estavam apenas sendo despojadas daquele lugar, mas poderiam estar sendo realocadas para um outro local, melhor e mais apropriado para uma família. Gostaria muito de acreditar nessa segunda hipótese. Não se julga sem saber todos os detalhes, de ambos os lados. As aparências enganam e podem levar a preconceitos, assim como os preconceitos podem simplesmente cegar, não dando chances para as verdades ocultas serem devidamente reveladas. Existe todo um trajeto percorrido para estarmos onde estamos, nesse exato momento. Aquela família não estaria lá simplesmente por querer estar. Uma longa e difícil história deve explicar todo aquele pontual desfecho.


Por sermos todos diferentes, num jogo do certo e errado, do bem e do mal, de opiniões preconceituosas e divergentes, partem fagulhas para que o seu, o meu, o nosso mundo possa caminhar para uma realidade melhor. Ao nos abrirmos para um entendimento melhor, dos erros e equívocos apontados contra nós, gerando conflitos, atritos, e muitas vezes um iminente caos, descobrimos os pontos de equilíbrios. Podendo assim ser chamado de amadurecimento de consciência. Vivemos dentro de uma esfera de aprender e ensinar, tudo junto, misturado, borbulhando na maior parte do tempo.


III. Escutando sentimentos.


Antes de nos posicionarmos ser contra ou a favor de certos acontecimentos, podemos nos dispor de forma ampla, dando condições à nossa mente saber o lado que está escolhendo. Dedicar um tempo para análise, reconhecer se os rumos tomados se ajustam ou não com os nossos valores, ou se está dentro do nosso conhecimento adquirido até então, mesmo que ainda limitado. Uma interpretação mais sábia e coesa será favorecida.


Podemos assim colocar à prova nossos sentimentos, adquirindo experiência na prática das virtudes, desenvolvendo então pontos importantes da nossa compaixão, da paciência, da responsabilidade, do respeito, da humildade, e por que não, do amor ao próximo, aquele fora da nossa costumeira pequena esfera de convivência.


Aquela menininha que segurava sua boneca, certamente naqueles instantes não compreendeu todo aquele alvoroço, toda aquela insensibilidade alheia, toda aquela crueldade estampada nos atos grosseiros. No entanto, tudo ficou amplamente registrado na sua subconsciência, todos os seus pequenos pormenores. Certamente que suas emoções foram desagradáveis, seus olhos presenciaram cenas que banharam todo seu organismo com sentimentos sofridos, sua mente assustada deve ter gritado por socorro, e o socorro não veio de forma aparente e concreta naquele momento.


Todas as situações assim ou semelhantes, terão seus devidos desdobramentos, e quais seriam eles?

O homem é produto do meio, ou o meio é produto do homem?

Pensemos!

O que estamos fazendo com o nosso mundo, e com nossos semelhantes?

Será que por não estarmos envolvidos diretamente naquela situação, estaremos isentos de qualquer responsabilidade?

Onde entraria o nosso papel, mesmo que minúsculo, nessa gigantesca humanidade?


Logicamente que o futuro dessa criança dependerá de suas próprias escolhas. Mas que escolhas ela fará? Onde e como construirá sua estrutura, para encontrar seu lugar neste mundo? O novo é bem-vindo, mas dentro do mundo de variadas e inúmeras possibilidades, passa a ser relativo. Só e somente só, dependerá das escolhas, do posicionamento assumido perante a vida.


 

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IV. A individualidade.


O ser humano é dotado de forças incríveis, mesmo dentro de sofrimentos inimagináveis, ele consegue superar e lutar contra todas as adversidades. Todos somos dotados dessa força, porém a leitura que cada um faz determina o caminho, apontado pelas suas respectivas escolhas.


Duas pessoas passando pelos mesmos problemas e pelas mesmas situações, reagirão e assimilarão de formas diferentes as questões vividas. Isso é tão óbvio e comum que pode ser constatado por qualquer pessoa, mas devemos refletir no que faz uma ser vitoriosa, e a outra uma derrotada. Quais critérios se envolvem nessa bifurcação, que a vida se encarrega de colocar à frente dessas pessoas?


Uma poderá, apesar de todo e qualquer sofrimento que se apresente, cuidar pacientemente das feridas, fazendo adequada e incansavelmente as assepsias, os curativos, aceitando e suportando as dores, e os remédios amargos para que se processe a cura. E no processo da cura vai descobrindo as respectivas causas e seus efeitos, adquirindo experiências no respeitar e perceber os limites, seus e de seus semelhantes. Desenvolvendo a prudência, a modéstia, e temperando com responsabilidade as suas atitudes e decisões. Os seus erros tornando-se lições a serem aprendidas, e na medida do possível, não sendo mais repetidas.


A outra pessoa poderá se revoltar, geralmente culpando terceiros pelo seu infortúnio, e assim viver em função de denegrir e atacar os seus próximos. Valoriza o efêmero, o fácil, não suporta dores e nem cuida de suas feridas; então sua realidade e seus valores são fúteis, e presos à aparência e superficialidade. Na ânsia de se sentir superior, agarra com fervor qualquer possibilidade de se vingar das pessoas, se vingar do mundo, pois faz de si a maior das vítimas; como se todos fossem culpados pela infelicidade e desgraça de sua vida. Onde estaria o maior culpado? Seria puramente culpa dos outros?


Aquelas três crianças vivendo da forma como estavam, passando por muitas privações e sofrimentos, me fez pensar. Como será que cada uma vai descarregar essa bagagem, ao longo dos dias de suas vidas?


Quais serão seus sonhos, seus valores, sua visão de mundo, sua visão das pessoas, sua visão de família?

Foi inevitável tais questionamentos virem à minha mente. Meu coração se compadeceu.

É fato que para tudo existem soluções, e elas entram em ressonância, acompanhando e se alinhando à necessidade particular de cada um. Cada um vai viver as suas necessidades, mesmo muitas vezes, sendo tão destoantes aos nossos olhos. Está na razão de viver daquela pessoa. No seu devido tempo, poderá haver uma compreensão do verdadeiro motivo daquela realidade. Nada acontece por simplesmente acontecer, e então minha mente se prende aos passos daquela família. Os pais, as crianças e seus dois cães, atravessam a rua e seguem suas vidas. Por mais triste que pareça a situação, eles têm entre eles seus pontos de apoio, a família está ali, reunida, e caminham lado a lado, juntos.


V. As escolhas.


Encontrarão pela frente diferentes rumos. As bifurcações serão colocadas sabiamente pela Vida, e que naturalmente exigirá uma escolha. Abrir-se-ão as devidas portas do lado escolhido, fechando-se as do lado rejeitado; e assim sucessivamente a cada bifurcação.


Pagamos muito caro por não saber escolher o lado certo a percorrer. Perdemos muito tempo entrando e saindo pelas portas erradas. Quando na verdade, a simplicidade nos é mostrada a todo instante, através de toda manifestação da natureza. Dificilmente paramos para observar. Permanecemos cegos em boa parte da vida, e quando despertamos, entendemos o quão simples e belo é o viver verdadeiramente. Nesse ponto, o mínimo e o suficiente para uma vida digna, já se mostram presentes no dia a dia, e então, a visão que temos da Vida é de generosidade.


Sair da massificação e aprender a ouvir com o próprio ouvido, e ver com os próprios olhos, independentemente do que muitos ao redor vão dizer. Isso é fundamental.


A imagem do caminhar daquela família, que parte na contramão do grande fluxo de carros ou da vida, passa despercebida pela grande maioria dos apressados dessa enorme cidade.


Viver e deixar viver. Necessitamos todos dessa experiência.


São várias minúsculas micro e pequenas esferas, dentro dessa gigante macro esfera que representa o mundo que nos acolhe. Por mais que estejamos todos ligados, através de uma infinita rede de conexões invisíveis, ainda assim, muito pouco disso se percebe ou é devidamente entendido. E a vida segue, cada qual em busca de suas verdades; ora as encontrando, e ora se perdendo em valores relativos. Dentro da razão do momento de cada um, a vida se expressa justificando sua existência.


Todos os nossos atos, e até mesmo os pensamentos, refletirão na vida deste nosso mundo, por pequeno que sejamos estaremos sempre agregando, positiva ou negativamente. Podemos e devemos escolher, tudo começa por cada um de nós. A construção ativa de um mundo melhor, necessita de uma reforma diária, de uma reforma íntima e consciente, através do reconhecimento e condutas que expressem valores absolutos.


Quando o Absoluto se manifesta, haverá naturalmente mais fraternidade, mais caridade, mais bondade e amor; prevalecendo o princípio do bem.


Pouco adianta a fraternidade e a caridade serem decretadas por leis humanas; se o homem não as compreende. Se o horror ao mal não estiver naturalmente dentro do coração do homem, não adianta também o proibir.


Elevar o estado de consciência, essa é a vereda da vida.


Temos todos um longo caminho a trilhar, nenhum caminho é curto e fácil; e os atalhos necessitam ser muito bem conhecidos, antes de serem escolhidos como opção.

Percorrer respeitando, sempre e ao máximo, todas as formas de vida.

O nosso percorrer, com as nossas condutas alinhadas ao bem ou ao mal, se expressam inevitavelmente no nosso meio.

Como está o nosso meio atualmente?

Como estamos nos manifestando nesse meio?


Desde tempos antigos, filósofos expuseram suas ideias sobre a questão do homem ser ou não, produto do seu meio. Digamos que ainda hoje, essa questão dá margem a muita controvérsia. E digamos, que por ser ainda o meio, importante e determinante, para uma grande maioria de pessoas encapsuladas em ilusões, perdidas na aquisição e escolha dos seus valores; o dever de cada um de nós seria agregar elementos, que pudessem elevar tais valores. Fazendo que o produto desse meio, possa ser no mínimo um produto de qualidade, consciente de suas ações. E então assim, através do desenvolvimento do potencial psíquico, do potencial da mente, e consequentemente do espiritual, crescer ciente de suas responsabilidades. Ampliando dessa forma as percepções, e expressando os valores absolutos, a cada passo de suas condutas.


O meio é produto do homem.

Cabe a cada um de nós torná-lo digno para que o mundo assim também se torne.


Qual é o mundo ideal que habita os seus sonhos?


Confira a última crônica da nossa coleção - Crônica #78 | A roda gigante.

 

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Nosso cronista Otavio Yagima fez uma participação especial, e o encontro está imperdível; confira no player aqui embaixo e também visite as demais postagens no YT da neo!



 

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