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Crítica | Karate Kid: Lendas

Redação neonews
há 2 dias
3 min de leitura

Karate Kid: Lendas é uma ponte entre gerações que respeita o passado sem esquecer de contar uma nova história

(Foto: Divulgação)

Depois do sucesso estrondoso de Cobra Kai, que resgatou com maestria a franquia Karate Kid para o público moderno, Karate Kid: Lendas chega aos cinemas em 2025 com a difícil missão de honrar esse legado e, ao mesmo tempo, justificar sua própria existência. Felizmente, o filme acerta mais do que erra, equilibrando com habilidade emoção, tradição e renovação. Com a assinatura do trio Josh Heald, Jon Hurwitz e Hayden Schlossberg — os mesmos nomes por trás da série da Netflix — o longa traz uma narrativa familiar, mas não preguiçosa, e consegue oferecer algo novo mesmo dentro da fórmula clássica.

A grande novidade aqui é a união de universos antes considerados distintos: o de Daniel LaRusso (Ralph Macchio), símbolo da franquia original, e o de Sr. Han (Jackie Chan), do remake de 2010. A expectativa era grande — e o resultado é comovente. Em tela, o encontro desses dois mentores funciona como uma passagem de bastão simbólica, mas também como um lembrete da pluralidade de caminhos que o karatê pode tomar. A química entre Macchio e Chan é respeitosa, madura e sutil, e seus momentos juntos no filme são preciosos para fãs antigos que acompanharam a evolução de ambos ao longo das décadas.

O novo protagonista, Lin (vivido com carisma e verdade por Ben Wang), é uma excelente adição ao universo Karate Kid. Sua trajetória de adaptação, deslocamento e superação segue os moldes que conhecemos, mas ganha camadas interessantes ao se desenvolver em Nova York, com um pano de fundo multicultural e emocionalmente mais denso. O roteiro acerta ao aprofundar sua relação com Mia (Sadie Stanley) e, principalmente, com o personagem de Joshua Jackson, que interpreta o pai da garota. É nessa dinâmica familiar — repleta de dúvidas, ressentimentos e pequenos gestos de compaixão — que o filme encontra sua nota mais original.

Tecnicamente, Karate Kid: Lendas é elegante. A direção de Jonathan Entwistle (The End of the F**ing World*) demonstra sensibilidade nos momentos de maior carga dramática, sem perder o ritmo nas cenas de treino e confronto. A fotografia opta por uma estética quente e intimista, destacando bem os contrastes culturais e emocionais de Lin. As cenas de luta, por sua vez, são bem coreografadas e filmadas com clareza — um alívio em tempos de cortes excessivos —, valorizando o impacto físico e simbólico de cada golpe. A trilha sonora intercala temas clássicos com novas composições, reforçando a ideia de legado contínuo.

Um dos maiores méritos de Lendas está na maneira como trata o fan service. Ele está presente, mas nunca se impõe. Os acenos ao passado — uma frase de Miyagi, uma lembrança do Torneio de All Valley — são pontuais e bem inseridos, funcionando como presentes ao público fiel sem comprometer o andamento da trama. O filme entende que nostalgia, quando bem dosada, emociona sem engessar. E é justamente essa leveza que permite que novos espectadores entrem nesse universo sem sentir que precisam fazer um dever de casa para se importar.

Em termos emocionais, Lendas é um filme sobre reencontros: com pessoas, com ideias e com o que realmente importa. Não é apenas sobre vencer no tatame, mas sobre encontrar o próprio centro. Essa filosofia, tão enraizada na figura do Sr. Miyagi, continua viva aqui — não apenas nos diálogos, mas nas atitudes dos personagens, na forma como lidam com a dor, a perda e o crescimento. O filme não precisa forçar lágrimas, porque sua sensibilidade está presente em pequenos gestos e silêncios, respeitando a alma da franquia.

No fim das contas, Karate Kid: Lendas é tudo o que uma boa continuação deve ser: respeitosa ao passado, mas corajosa o suficiente para seguir em frente. É um filme feito com carinho, com propósito, e que se mostra à altura do legado que carrega. Seja você um fã de longa data ou um novo visitante nesse dojô, aqui há espaço para todos. E como nos ensinou o próprio Miyagi: “equilíbrio é tudo”. E esse filme, felizmente, tem de sobra.