Crítica | Elio
- Redação neonews
- 24 de jun.
- 3 min de leitura
Pixar acerta no coração com sua velha fórmula, mas esquece de mirar nas estrelas em seu novo filme - Elio

(Foto: Divulgação)
Elio é, à primeira vista, tudo o que se espera de um filme da Pixar: protagonista sensível, trama emocional, criaturas excêntricas e uma jornada de autodescoberta com um toque cósmico. Dirigido por Adrian Molina, co-diretor de Viva: A Vida é uma Festa, o longa nos leva da solidão de um garoto introvertido à vastidão de um universo cheio de alienígenas exóticos e reflexões sobre pertencimento. E embora essa travessia seja tecnicamente impecável e recheada de bons sentimentos, Elio parece girar em uma órbita conhecida demais, onde a segurança da fórmula impede que a história alcance um verdadeiro impulso gravitacional.
Na trama, conhecemos Elio, uma criança reclusa que, após perder os pais, enfrenta o luto e o isolamento com a ajuda da tia Olga, que se vê subitamente empurrada para o papel de cuidadora. A relação entre os dois é marcada por silêncios, hesitações e tentativas frustradas de conexão — até que Elio, em um inesperado acidente cósmico, é confundido com o "Embaixador da Terra" por um consórcio galáctico e levado para outro planeta. Lá, conhece Glordon, um alienígena igualmente deslocado, herdeiro de um império que não entende. Juntos, eles descobrem que até mesmo o universo pode parecer pequeno quando o que mais falta é um lar verdadeiro.
Essa relação entre Elio e Glordon é, talvez, o maior trunfo emocional do filme. Ambos compartilham a dor de não se encaixar — um sentimento universal que ressoa profundamente com o público. A Pixar, como sempre, sabe explorar a fragilidade emocional de seus personagens, e aqui, mais uma vez, acerta em cheio nos momentos de vulnerabilidade. São nesses trechos, mais silenciosos e introspectivos, que Elio brilha de verdade, mostrando que o espaço mais vasto não é o sideral, mas o emocional.
Visualmente, o filme é um espetáculo. O design dos planetas e criaturas alienígenas impressiona com uma mistura de criatividade lúdica e texturas quase tangíveis. A direção de arte brinca com tons fluorescentes e arquitetura surrealista, fazendo do universo um personagem à parte. A qualidade da animação atinge novos patamares — com cenas que poderiam, tranquilamente, ser confundidas com imagens reais se não fossem os seres fantásticos que habitam cada plano. Tudo isso é complementado por uma trilha sonora discreta, mas envolvente, que abraça o espectador na melancolia doce que permeia a jornada de Elio.
No entanto, mesmo com todos esses méritos, o roteiro de Elio opta por uma estrutura linear, previsível e quase reciclada. A Pixar já contou essa história — de crianças incompreendidas encontrando sentido em outros mundos — inúmeras vezes, e o que antes parecia uma fórmula mágica, aqui soa como uma repetição segura. O filme evita riscos narrativos e não propõe nenhuma ruptura significativa, preferindo se apoiar em um sentimentalismo conhecido, ainda que eficaz.
Essa falta de ousadia pode afastar parte do público mais maduro, que espera da Pixar a mesma genialidade criativa que entregou em obras como Divertida Mente, Up ou Wall-E. Elio, por sua vez, se contenta em ser um filme “bonitinho” e tocante, o que, embora não seja um demérito, o impede de se tornar memorável no panteão do estúdio. Para as crianças, a previsibilidade pode até ser um conforto; para os adultos, talvez soe como um déjà vu emocional que não emociona tanto quanto poderia.
Ainda assim, Elio é um bom filme. É sensível, visualmente arrebatador e feito com carinho evidente. Só não é um novo clássico. Talvez ele funcione melhor como um trampolim emocional para futuras histórias mais ousadas, ou como a introdução de uma geração mais nova à sensibilidade narrativa da Pixar. No fim das contas, Elio pode até não reinventar a galáxia, mas mostra que, mesmo em órbita conhecida, ainda é possível encontrar pequenos planetas de ternura que merecem ser visitados.
Ficha Técnica
Nome: Elio
Tipo: Filme
Onde assistir: Cinemas
Categoria: Aventura / Ficção Científica
Duração: 1h 39min
Nota 3/5