Cinco escolhidos na corrida pela estatueta trazem diversidade de narrativas e culturas
Por: Larissa Biondi e Mariana de Castro
As categorias de documentários, embora não sejam as mais populares e esperadas entre a grande maioria dos espectadores da cerimônia anual do Oscar, ainda assim nos entregam diversas produções que podem não só nos ajudar a compreender um pouco mais sobre os elementos técnicos que compõem uma produção audiovisual, como também nos apresentar a novas interpretações e perspectivas de diversos temas recorrentes do meio sociocultural no qual estamos inseridos.
Em 2021, temos cinco documentários de longa-metragem naturais de quatro países diferentes: Estados Unidos, Chile, Romênia e África do Sul. Separamos um breve resumo de cada um deles juntamente a algumas informações adicionais para que você assista e escolha os seus favoritos da categoria!
Crip Camp: Uma Revolução Para a Inclusão (Estados Unidos)
Dirigido por James Lebrecht e Nicole Newnham, o documentário conta com a produção executiva do ex-presidente Barack Obama e sua esposa Michelle Obama, entre outros nomes. Sendo um dos favoritos para levar a estatueta, Crip Camp, na visão dos críticos, tem competido fervorosamente com o romeno “Collective”.
Inicialmente, no longa documental, são apresentadas algumas gravações do Acampamento Jened, um acampamento de verão dos anos 70 para pessoas com todos os tipos de deficiência. O documentário dialoga diretamente com o movimento de contracultura que teve o seu clímax no Woodstock, em 69, e que fervilhou durante a década seguinte, trazendo para a sociedade um maior aprofundamento e ativismo em discussões sociais, tendo como base pautas como liberdade, igualdade e rompimento com o tradicionalismo social das décadas anteriores.
No decorrer do longa, acompanhamos algumas personalidades que frequentavam, quando jovens, o acampamento Jened, e que foram muito importantes na luta por acessibilidade social para pessoas com deficiência. Judy Heuman foi o rosto principal do movimento Ocupação 504, em 1977, que buscava responsabilizar o Estado por fomentar instalações que permitissem a participação e acesso de pessoas com deficiência a instituições e espaços coletivos.
Crip Camp é um documentário indispensável para quem deseja conhecer um pouco mais sobre pautas sociais dos anos 60 e 70 e como a mobilização de grupos pertencentes a elas mudaram e ainda influenciam a história dos Estados Unidos.
O documentário, ganhador do Independent Spirit Awards (a última premiação antes da noite do Oscar) na categoria, pode ser conferido pela Netflix.
Collective (Romênia)
Principal concorrente de Crip Camp, o romeno “Collective”, dirigido por Alexander Nanau, documenta uma investigação jornalística liderada pelo jornal Sports Gazette, relacionada às vítimas de um incêndio ocorrido em 2015 em uma boate de Bucareste. O incêndio deixou 27 mortos e alguns feridos com diversos níveis de queimaduras corporais.
A investigação passou a ser estendida quando a equipe do Sports Gazette notou que algumas pessoas, mesmo com queimaduras superficiais, estavam morrendo mesmo sendo assistidas por hospitais. A apuração do jornal acabou revelando que as mortes não eram parte de uma casualidade, mas, sim, relacionadas a escândalos de corrupção interligados às raízes da política romena.
O documentário também concorre na categoria de melhor filme internacional e ainda não está disponível nos serviços de streaming no Brasil.
Time (Estados Unidos)
Dirigido por Garrett Bradley, Time acompanha a história de Sibil Fox Richardson e seu marido Rob Rich que, nos anos 90, assaltaram um banco para investir na loja de roupas a qual eles eram proprietários. Presos pela polícia, Sibil Fox, grávida de gêmeos, aceita um acordo e, então, é sentenciada a 12 anos de prisão, enquanto Rob é condenado por 60 anos.
Cumprindo 3 anos de sua pena, Sibil sai da cadeia com um objetivo: libertar seu marido Rob. Durante o documentário, é interessante acompanhar o engajamento de Sibil na luta contra o sistema carcerário estadunidense até a libertação de seu marido, 20 anos depois.
O nome do documentário é uma analogia que se conecta a dois diferentes sentidos: tanto à ideia de time como uma gíria referente ao tempo de sentença, quanto a time como uma metáfora que representa o trabalho e o propósito que separam Sibil de Rob.
A produção tem muitos momentos emocionantes e de revolta, que sem dúvidas não deixará com que você se mantenha indiferente à história, que mesmo sendo uma denúncia, também trata-se de uma história de amor, como diz a diretora, Bradley.
O filme está disponível na plataforma de streaming Amazon Prime.
Agente Duplo (Chile)
Representando a América Latina na competição, o inusitado “Agente Duplo”, dirigido por Maite Alberdi, tem como protagonista, Sergio, um senhor de Santiago, capital do país, que é contratado por uma empresa de investigação privada para investigar supostos maus tratos a Sonia, uma moradora de uma casa de repouso.
Durante a investigação, Sergio se integra ao dia a dia da casa e aproxima-se cada vez mais dos outros moradores, que também passam, aos poucos, a ter suas histórias contadas no documentário.
“Agente Duplo” é, acima de tudo, um longa muito sensível e reflexivo (e muito bem humorado!), que levanta de forma delicada diversos assuntos profundos como: solidão, morte, abandono, família e as dificuldades da velhice em si. O documentário com certeza vai te fazer chorar ao acompanhar as histórias dos cativantes idosos moradores do lar San Francisco.
Você pode conferir a “Agente Duplo” pelo serviço de streaming Globoplay.
Professor Polvo (África do Sul)
O ganhador do BAFTA de melhor documentário também está cotado como um dos principais nomes na corrida para a estatueta do Oscar. Dirigido por James Reed e Pippa Ehrlich, o longa conta com produção de Craig Foster, que também é um dos personagens principais do documentário. Craig Foster é um diretor de cinema sul africano que está passando por um momento de bloqueio criativo e decide retomar o seu hobbie como mergulhador.
Em um de seus mergulhos, Foster acaba notando que está sendo observado por um polvo (fêmea) com o qual cria uma relação de amizade e afetividade documentada ao longo de um ano, diariamente.
O documentário, também muito inusitado, levanta diversas questões sobre amizade, nossa relação com a natureza, os ciclos da vida, mortalidade, inteligência e, principalmente, sobre o que podemos aprender quando nos permitimos ser tocados pelas pequenas coisas.
“Professor Polvo” pode ser conferido pela Netflix.
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