top of page
  • Instagram
  • X
  • LinkedIn

Crítica | Os Quatro da Candelária

Foto do escritor: Redação neonewsRedação neonews

Os Quatro da Candelária; uma reconstrução sensível que mistura realidade e fantasia para dar voz às vítimas de uma tragédia nacional


Os Quatro da Candelária
Os Quatro da Candelária

(Foto: Divulgação)



A minissérie "Os Quatro da Candelária", dirigida por Luis Lomenha e disponível na Netflix, rompe as convenções do gênero true crime para oferecer uma narrativa que foca nas vítimas ao invés dos perpetradores. Ao recriar a trágica história da chacina de 1993, em que oito crianças e jovens em situação de rua foram assassinados no Rio de Janeiro, a produção opta por explorar as últimas horas de vida de quatro dessas vítimas. É uma abordagem delicada, mas também profundamente impactante, que homenageia vidas interrompidas enquanto denuncia as desigualdades que perpetuam tragédias como essa.


A série destaca-se por sua estrutura narrativa única. Cada episódio é contado sob a perspectiva de um dos protagonistas, oferecendo um olhar íntimo e individual sobre seus sonhos, lutas e relações. Essa escolha não apenas dá profundidade emocional à trama, mas também convida o espectador a conectar-se com as vítimas de maneira singular. Entre o elenco, o estreante Samuel Silva entrega uma performance arrebatadora no primeiro episódio, estabelecendo o tom visceral e autêntico que permeia a obra. Embora veteranos como Bruno Gagliasso e Antonio Pitanga estejam presentes, são os jovens talentos que roubam a cena, trazendo verdade e emoção crua a cada momento.


A direção de Lomenha é corajosa e criativa, transitando entre o realismo social e o fantástico com uma fluidez surpreendente. Sonhos e desejos interrompidos na vida real são retratados com poesia na ficção, permitindo que as vítimas encontrem momentos de felicidade e realização que lhes foram negados. Essas sequências oníricas são um respiro para o espectador, mas também um lembrete devastador da fragilidade da esperança diante das circunstâncias.


Um dos aspectos mais marcantes da série é o uso do afrofuturismo e da ancestralidade para reforçar a intemporalidade de sua mensagem. Com elementos propositalmente anacrônicos, como a pira dos Jogos Olímpicos de 2014 e modelos de carros contemporâneos, Lomenha desconstrói a linearidade do tempo. Essa escolha estética sublinha uma crítica contundente: a tragédia da Candelária não pertence apenas ao passado, mas ecoa nas ruas do Brasil até hoje. É uma maneira potente de dizer que a história poderia ter acontecido na semana passada — e que ainda pode acontecer amanhã.


Tecnicamente, "Os Quatro da Candelária" impressiona. A fotografia é rica em contrastes, alternando entre a dureza das ruas e a luminosidade dos sonhos, enquanto a trilha sonora mistura ritmos tradicionais com composições modernas, ampliando a conexão entre o passado e o futuro. A cenografia e os figurinos também merecem destaque, especialmente nas cenas de fantasia, onde cada detalhe enriquece o universo esperançoso e utópico que as vítimas sonham alcançar.


A série não se limita a contar uma história de violência; ela é, acima de tudo, um exercício de empatia. Lomenha humaniza as vítimas, explorando suas amizades, medos e aspirações. Essa abordagem torna impossível reduzir seus protagonistas a estatísticas ou meras figuras de um crime bárbaro. Em vez disso, a série devolve-lhes a dignidade, transformando-os em símbolos de resistência e memória.


Ao unir elementos do drama social com pinceladas de fantasia e crítica social, "Os Quatro da Candelária" vai além de uma homenagem. Ela desafia os espectadores a confrontarem as desigualdades que ainda marcam a sociedade brasileira. É uma obra poderosa e essencial, que não apenas resgata o passado, mas também lança luz sobre o futuro que ainda precisamos construir.



 

Ficha técnica


Nome: Os Quatro da Candelária

Onde Assistir: Netflix

Categoria: Drama

Duração: 1 Temporada


Nota 4.5/5


 

neonews, neoriginals e ClasTech são marcas neoCompany. neoCompany Ltda. Todos os direitos reservados.

  • LinkedIn
  • Youtube

neonews, neoriginals e ClasTech são marcas neoCompany.

neoCompany ltda. Todos os direitos reservados.

Entre em contato com o neonews

Tem alguma sugestão de pauta, eventos ou deseja apenas fazer uma crítica ou sugestão, manda um email pra gente.

  • Instagram
  • X
  • LinkedIn
bottom of page