Crítica | O Telefone Preto 2 - Quando o medo cresce junto com a dor
- Redação neonews

- 16 de out.
- 3 min de leitura
Scott Derrickson retorna ao universo sombrio que criou, mas agora troca o susto pelo sentimento e transforma o terror O Telefone Preto em um espelho de traumas e redenções

(Foto: Divulgação)
Há algo de especial na forma como O Telefone Preto 2 entende o medo. O diretor Scott Derrickson e o roteirista C. Robert Cargill, que já haviam mostrado no primeiro filme um talento ímpar para equilibrar sustos e emoção, retornam com uma continuação que vai além do horror sobrenatural. Aqui, o terror serve de pano de fundo para algo mais íntimo e doloroso: a cicatriz deixada por quem sobrevive ao mal. O resultado é um filme surpreendentemente humano — tenso, sim, mas também sensível e poético no olhar sobre o trauma.

(Foto: Divulgação)
O filme se passa alguns anos após o original. Finn (Mason Thames), agora adolescente, tenta conviver com os ecos de seu sequestro e com a presença fantasmagórica do Sequestrador (Ethan Hawke). O garoto, antes tímido e sonhador, agora é consumido pela raiva e pela culpa. Sua irmã Gwen (Madeleine McGraw), por outro lado, amadureceu com um propósito: entender e dominar o dom que herdou — visões que a colocam em contato direto com o sobrenatural. Essa dualidade entre repressão e aceitação se torna o motor emocional da trama, levando os dois irmãos até um acampamento onde o passado da mãe e o retorno de velhos fantasmas se entrelaçam.
O diretor constrói esse novo capítulo como um espelho do primeiro. Se antes o confinamento era físico — um porão sem janelas e um telefone que ligava o vivo ao morto —, agora ele é psicológico. Derrickson transforma espaços abertos, como o acampamento e suas florestas cobertas de névoa, em labirintos mentais. A câmera se move de forma inquieta, com planos longos e granulação analógica que remetem ao cinema dos anos 1980, reforçando o caráter nostálgico e angustiante da produção.
Mason Thames e Madeleine McGraw estão em sintonia perfeita. Thames entrega um Finn fragilizado, mas em constante conflito interno, enquanto McGraw brilha ao dar vida a uma Gwen que transborda empatia e força espiritual. O reencontro com o Sequestrador de Ethan Hawke é um dos momentos mais intensos do filme: mesmo morto, o vilão continua a exercer poder sobre as vítimas, agora como uma força vingativa e simbólica. Sua presença mascarada ecoa como um lembrete de que o verdadeiro terror não morre — ele apenas muda de forma.
O roteiro de Cargill surpreende por evitar os clichês do gênero. Há o típico acampamento com personagens que poderiam facilmente cair em arquétipos de slasher, mas o filme se recusa a segui-los. Em vez de corpos empilhados, temos pessoas tentando lidar com seus próprios demônios — literais e metafóricos. O suspeito dono do acampamento (Demián Bichir), por exemplo, é um dos melhores exemplos disso: mais humano do que monstruoso, ele é o retrato da culpa e da fé tentando coexistir num mesmo corpo. A inserção de elementos teológicos e discussões sobre perdão, propósito e alma tornam a história inesperadamente profunda.

(Foto: Divulgação)
Tecnicamente, O Telefone Preto 2 é impecável. O design de som é desconfortável de propósito — arranhado, analógico, como se os ecos das vozes vindas do além realmente saíssem do aparelho amaldiçoado. A montagem alterna entre pesadelos, lembranças e realidade com fluidez, criando uma sensação constante de que o espectador nunca está seguro. E, como cereja no topo, a direção de arte mergulha de cabeça na estética dos anos 1980, homenageando A Hora do Pesadelo e Sexta-Feira 13 sem jamais perder sua identidade própria.
Opinião pessoal: " O Telefone Preto 2 me pegou de um jeito diferente. Não é só um bom filme de terror é uma história sobre dor e crescimento. Derrickson prova que dá pra assustar e emocionar ao mesmo tempo. Mason Thames e Madeleine McGraw estão incríveis, e o retorno do sequestrador é arrepiante. É aquele tipo de sequência rara que respeita o original, mas tem coragem de ser outra coisa. Me fez pensar: às vezes, os piores fantasmas são os que a gente mesmo cria."
Mais do que uma sequência, O Telefone Preto 2 é uma reconstrução emocional. Derrickson usa o terror como ferramenta para falar sobre dor, fé e reconciliação — com os outros e consigo mesmo. O medo não é o inimigo aqui; é o lembrete de que sobreviver também é uma forma de luta. E talvez seja por isso que, quando o telefone toca, o que ecoa do outro lado não é apenas o som dos mortos, mas a voz de nossas próprias sombras.
Ficha Técnica
Nome: O Telefone Preto 2
Tipo: Filme
Onde assistir: Cinemas
Categoria: Terror/Thriller
Duração: 1h 54min
Nota 4/5


