Crítica | O Clube do Crime das Quintas-Feiras
- Redação neonews
- há 7 dias
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Adaptação da Netflix aposta no carisma do elenco estrelado e na atmosfera acolhedora, mas perde parte da profundidade crítica presente na obra de Richard Osman - O Clube do Crime das Quintas-Feiras

(Foto: Divulgação)
A adaptação de O Clube do Crime das Quintas-Feiras chegou ao catálogo da Netflix com a difícil missão de condensar o best-seller de Richard Osman em apenas duas horas. A dupla de roteiristas Katy Brand (Boa Sorte, Leo Grande) e Suzanne Heathcote (Killing Eve) teve de tomar decisões duras sobre quais histórias cortar, sacrificando camadas do livro em nome de ritmo e objetividade. O diretor Chris Columbus, conhecido por sucessos como Harry Potter e Esqueceram de Mim, traz uma versão acessível e bem-humorada da trama, mas menos ousada do que muitos fãs esperavam.
O maior trunfo do longa está, sem dúvidas, em seu elenco central. Helen Mirren brilha como Elizabeth, a ex-espiã perspicaz que conduz o quarteto com olhar afiado e autoridade sutil. Ben Kingsley, como Ibrahim, entrega nuances delicadas ao psiquiatra aposentado, enquanto Pierce Brosnan assume com carisma o sindicalista Ron. Já Celia Imrie, como Joyce, equilibra o grupo com afeto e leveza. A química entre os quatro é irresistível, e o roteiro sabe aproveitar esse entrosamento, permitindo que o público os veja não apenas como detetives amadores, mas como velhos conhecidos em busca de propósito e companheirismo.
Outro ponto forte é o senso de comunidade criado pelo filme. Relações secundárias, como a amizade entre Elizabeth e Bogdan (Henry Lloyd-Hughes), ou a aproximação entre a policial Donna (Naomi Ackie) e o grupo, ajudam a expandir o universo de Coopers Chase para além do núcleo principal. O resultado é um ambiente acolhedor, onde mesmo os espectadores se sentem parte daquele condomínio peculiar, acompanhando de perto os dilemas e segredos escondidos entre os moradores.
No entanto, ao tentar ser mais comercial, o longa perde a força moral que fez da obra de Osman algo tão impactante. Se no livro “todo mundo tem uma história para contar”, também havia uma balança clara entre inocência e corrupção, revelando críticas afiadas a certos arquétipos sociais. Já no filme, essa balança é ofuscada: os ricos e poderosos escapam de suas responsabilidades, e as injustiças se diluem em um retrato de privilégios pouco questionados. A ausência desse contraponto moral deixa a narrativa com sabor menos marcante.
Do ponto de vista técnico, a produção apresenta altos e baixos. A fotografia envernizada de Don Burgess (Forrest Gump) confere certo brilho, mas em momentos excessivamente polido, tirando naturalidade da história. Já a montagem de Dan Zimmerman (O Professor Aloprado) aposta em dinamismo, mas nem sempre conversa bem com a direção clássica de Columbus. Essa falta de sintonia pesa principalmente no terceiro ato, quando o ritmo se torna arrastado e as soluções narrativas parecem menos orgânicas.
Ainda assim, o filme oferece um charme inegável. É divertido, tem momentos emocionantes e traz atuações que seguram a atenção até o final. Mas, para quem conhece o livro, fica evidente a simplificação de temas complexos em nome da fluidez e da abrangência de público. O resultado é um mistério aconchegante, sim, mas que prefere encantar em vez de cutucar reflexões mais profundas.
No fim, O Clube do Crime das Quintas-Feiras (2025) funciona como um entretenimento eficiente, capaz de fisgar tanto fãs de tramas investigativas quanto espectadores em busca de calor humano em meio a crimes e intrigas. Porém, ao optar por uma narrativa menos ousada e mais "redonda", a adaptação acaba sendo um reflexo suavizado da obra original. Charmoso, envolvente e bem atuado — mas também seguro demais para deixar uma marca duradoura.
Ficha Técnica
Nome: O Clube do Crime das Quintas-Feiras
Tipo: Filme
Onde assistir: Netflix
Categoria: Mistério/Comédia
Duração: 1hr e 58min
Nota 3/5