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Crítica | Conclave

Redação neonews
29 de jan.
3 min de leitura

O filme Conclave é um thriller político envolvente que transforma a sucessão papal em um jogo de tensão e mistério

(Foto: Divulgação)

Em "Conclave", o diretor Edward Berger, vencedor do Oscar por Nada de Novo no Front, transforma a escolha de um novo Papa em um jogo de intrigas digno dos melhores thrillers políticos. Adaptado do romance de Robert Harris, o filme explora os bastidores da eleição mais sigilosa do mundo, onde fé, ambição e segredos colidem em um ambiente tão grandioso quanto claustrofóbico. Com um elenco estelar liderado por Ralph Fiennes, Stanley Tucci, John Lithgow e Isabella Rossellini, a produção mergulha na complexidade das disputas internas da Igreja, oferecendo um espetáculo visual e narrativo que prende o espectador do início ao fim.

O filme começa de forma intensa, com a morte do Papa e a convocação imediata dos cardeais para o conclave. No centro da história está o Cardeal Lawrence (Ralph Fiennes), responsável por conduzir o ritual da escolha do novo líder da Igreja. Sua presença é tanto de mediador quanto de peça-chave em um jogo onde ninguém é exatamente quem parece ser. A chegada de um misterioso cardeal mexicano, vindo do Afeganistão, e o segredo envolto no último encontro do Papa adicionam camadas de mistério que fazem do filme um verdadeiro thriller de espionagem e poder.

Visualmente, "Conclave" é um espetáculo cinematográfico. A diretora de fotografia Stéphane Fontaine cria uma atmosfera densa e opressora, utilizando iluminação baixa, sombras dramáticas e a grandiosidade das construções do Vaticano para transformar o local sagrado em um campo de batalha silencioso. A câmera de Berger alterna entre planos fixos e movimentações sutis, obrigando o espectador a examinar cada detalhe do quadro – uma escolha que amplifica a tensão e a sensação de vigilância constante. O Vaticano, com suas salas luxuosas e corredores imponentes, se torna quase um personagem próprio, reforçando a ideia de que, dentro dessas paredes, a história da Igreja é escrita com tinta de poder e influência.

O grande trunfo do filme, no entanto, está na atuação de Ralph Fiennes, que entrega uma das performances mais marcantes do ano. Seu Cardeal Lawrence é um homem consumido pela responsabilidade, pela dúvida e, talvez, por uma ambição que ele mesmo reluta em reconhecer. O ator transita com maestria entre momentos de frieza calculista e explosões emocionais, tornando cada cena sua uma lição de sutileza e profundidade. O modo como ele lida com os votos que, inesperadamente, começam a se voltar para ele, faz com que sua trajetória seja tão imprevisível quanto cativante.

Se "Conclave" se mantém preciso e afiado durante boa parte do filme, há um momento próximo ao final em que Berger toma um risco narrativo inesperado. A introdução de uma cena de ação pouco usual para o contexto surpreende e pode dividir opiniões, mas a grande reviravolta que se segue rapidamente recupera o impacto emocional e intelectual da trama. Essa reviravolta, que promete ser uma das mais discutidas do ano, eleva o filme de um drama histórico para um comentário incisivo sobre o poder e os segredos que moldam o destino de bilhões de pessoas ao redor do mundo.

Além da tensão política e da estética impecável, "Conclave" também encontra espaço para reflexões sobre os desafios da Igreja no século XXI. A disputa entre cardeais não é apenas uma questão de quem será o próximo Papa, mas de qual será a direção da fé católica diante de um mundo em constante mudança. Os diálogos afiados e os confrontos entre diferentes visões do cristianismo contemporâneo tornam o filme relevante e atual, mostrando que a batalha pelo poder espiritual pode ser tão intensa quanto qualquer embate secular.

Com uma direção magistral, atuações memoráveis e um roteiro envolvente, "Conclave" se firma como um dos grandes thrillers do ano. Berger transforma uma cerimônia milenar em um espetáculo cinematográfico de tirar o fôlego, provando que a fé e o poder, quando colocados sob a lente do cinema, podem gerar um drama tão eletrizante quanto qualquer conspiração política.