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Crítica | Como Treinar o Seu Dragão Live-action

Redação neonews
17 de jun.
3 min de leitura

Live-action do filme Como Treinar o Seu Dragão encanta com visual deslumbrante e coração fiel ao original, mas ainda guarda fogo para o futuro

(Foto: Divulgação Nintendo)

Quinze anos após a estreia do aclamado filme de animação, “Como Treinar o Seu Dragão” retorna às telas em uma versão live-action que equilibra nostalgia, tecnologia e emoção. Sob a direção do veterano Dean DeBlois, que também comandou a trilogia original, o longa de 2025 não tenta reinventar a roda — e talvez essa seja justamente sua força. Com um pé firme na fidelidade ao material original, o filme reproduz momentos icônicos quase quadro a quadro, mas injeta nova vida ao universo viking de Berk com cenários reais, efeitos visuais primorosos e uma construção de mundo que impressiona pela imersão.

O coração da história permanece inalterado: em uma aldeia de guerreiros moldados para odiar dragões, o jovem e desajeitado Soluço (Mason Thames) encontra no misterioso Fúria da Noite, Banguela, um improvável amigo — e uma chance de redefinir o futuro de sua comunidade. A química entre o ator e a criatura digital é surpreendentemente convincente, resultado não apenas de uma atuação sincera, mas de um trabalho de pós-produção cuidadoso que garante carisma e realismo aos dragões. Thames entrega um Soluço doce, cheio de hesitações e coragem juvenil, enquanto Gerard Butler retorna como Stoico, agora em carne e osso, com a mesma imponência que sua voz já oferecia.

Tecnicamente, o filme é um espetáculo. Os dragões mantêm sua estética amigável da animação original, mas com detalhes realistas que impressionam: escamas, olhos brilhantes e movimentos naturais compõem criaturas críveis e encantadoras. As sequências de voo são fluidas, emocionantes e coreografadas com uma sensibilidade que mistura adrenalina e ternura — algo raro em blockbusters do gênero. O uso de efeitos práticos também é um acerto: a construção física da vila de Berk, gravada em locações no norte da Europa, dá profundidade e textura ao ambiente, afastando a frieza que às vezes acompanha os filmes inteiramente digitais.

Apesar de seu cuidado visual, o roteiro peca pela timidez. Ao optar por uma adaptação extremamente fiel, o filme abre mão da chance de expandir a narrativa original com mais densidade e novas perspectivas. Há tentativas sutis de aprofundamento — a Astrid (vivida com firmeza por Nico Parker) mostra uma determinação maior, Melequento ganha um pai que impõe conflitos internos, e há breves referências à origem da tribo —, mas tudo isso é tratado de forma rápida, quase como acenos a um público que, certamente, queria mais. O potencial para desenvolvimento existe, mas permanece adormecido.

Ainda assim, é impossível sair do cinema sem se sentir tocado por esse reencontro. A força emocional do filme continua intacta, mesmo que boa parte do público já conheça cada virada da história. O laço entre Soluço e Banguela é, mais uma vez, o núcleo sensível que torna a trama tão poderosa: é sobre empatia, coragem, quebra de ciclos e aceitação — temas que, mesmo após uma década e meia, continuam ecoando com força no coração do espectador.

“Como Treinar o Seu Dragão” (2025) é, portanto, um voo seguro e bonito. Pode não ser ousado, mas é sincero. É um daqueles raros live-actions que entendem o espírito da obra original e não tentam modificá-lo à força. Em tempos em que remakes muitas vezes tropeçam tentando “modernizar” o que não precisa de conserto, é revigorante ver um filme que simplesmente respeita seu legado e entrega exatamente o que promete: uma aventura tocante, visualmente espetacular, que aquece a alma.

Com uma sequência já confirmada, a sensação é de que esse universo ainda tem muito a oferecer. Se o primeiro filme plantou sementes com delicadeza, talvez o próximo tenha coragem de explorar terrenos mais profundos e dar espaço para as novas histórias que já sussurram por entre os ventos de Berk. Até lá, essa nova versão de “Como Treinar o Seu Dragão” já voa alto — e merece cada aplauso.