Back to Black, uma cinebiografia que foca mais nos escândalos que no talento
(Foto: Divulgação)
"Eu quero ser lembrada pela minha voz", repete Amy Winehouse ao longo de Back to Black. Essa frase, que poderia servir como uma promessa de uma cinebiografia profunda e humana, acaba se tornando uma ironia no filme dirigido por Sam Taylor-Johnson. Ao invés de explorar a complexidade e o talento inegável da cantora, o filme se perde em uma narrativa que transforma sua vida em uma sucessão de playbacks e clichês melodramáticos.
Focando em um curto período da vida de Amy, da composição de seu primeiro álbum, Frank, até pouco tempo depois de sua apresentação no Grammy de 2008, Back to Black tenta capturar momentos cruciais de sua jornada. No entanto, a narrativa de elipses de tempo aceleradas falha em desenvolver uma visão coesa e profunda da artista. O filme se concentra em momentos convenientes, como suas primeiras canções, a relação com a avó paterna, Cynthia, e o tumultuado relacionamento com Blake Fielder-Civil, mas esses episódios são apresentados de maneira superficial, sem explorar verdadeiramente a complexidade de Amy.
O talento de Amy, que deveria ser o ponto central da cinebiografia, é relegado a segundo plano. As escolhas do roteiro de Matt Greenhalgh a reduzem a uma figura frágil, cuja vulnerabilidade é explorada através de suas letras autobiográficas. Isso transforma o filme em uma sequência de hits, permitindo ao público cantar junto, mas deixando de lado a essência artística e humana de Amy Winehouse. O foco recai sobre os homens em sua vida, como o ex-marido Fielder-Civil e seu pai, Mitch Winehouse, que também é produtor do longa.
Os personagens masculinos, testemunhas privilegiadas da queda de Amy, são tratados de maneira quase perdoável no filme. Eles participam e antagonizam o ciclo de dependência e vício da cantora, mas suas ações são apresentadas de forma que dilui sua responsabilidade. Diferente do documentário Amy, de Asif Kapadia, que acompanhava a jornada de Amy na tentativa de reassumir o controle de sua vida, Back to Black a desumaniza, reduzindo seu amor pela música ao status de uma mera fabricante de hits passionais.
Marisa Abela, que interpreta Amy, faz o possível com um roteiro restritivo. Sua atuação, tentando emular os trejeitos e o sotaque de Amy, é convincente, mas limitada pelas escolhas narrativas do filme. A caracterização, com roupas, penteados e cenários que remetem às situações famosas da vida de Amy, como sua apresentação no Grammy, tenta imbuir a cinebiografia de autenticidade. No entanto, esse esforço de verossimilhança acaba traindo as intenções do longa, que se apoia em uma falsa sensação de sinceridade e acaba por sensacionalizar a trajetória de Amy.
O filme também se beneficia de uma certa autoridade ao ser visto como "fidedigno" por conta do envolvimento de Mitch Winehouse, mas isso só reforça uma perspectiva enviesada. A trajetória ímpar de Amy é reenquadrada de forma a servir interesses específicos, desrespeitando a complexidade de sua vida e carreira. Em vez de oferecer uma visão equilibrada e respeitosa, Back to Black se rende ao sensacionalismo e à dramatização exagerada.
Em última análise, Back to Black falha em fazer jus ao legado de Amy Winehouse. O filme, que poderia ter sido uma exploração sincera e profunda de sua vida e talento, se transforma em uma obra que prefere os escândalos à verdadeira arte. A voz que Amy queria que fosse lembrada é, infelizmente, silenciada por uma narrativa que não faz jus à sua genialidade e ao seu impacto no mundo da música.
Ficha técnica
Nome: Back to Black
Tipo: Filme
Onde assistir: Cinema
Categoria: Musical/Drama
Duração: 1h 47min
Nota 1/5