"Amores Materialistas" transforma romance em transação e expõe o preço do amor no capitalismo
- Redação neonews
- há 5 dias
- 2 min de leitura
Celine Song deixa a sensibilidade de lado e escancara como o mercado sequestrou os sentimentos em seu novo longa Amores Materialistas.

(Foto: Divulgação)
O novo filme de Celine Song, diretora de “Vidas Passadas”, chega às telas com uma proposta provocadora e extremamente atual: e se o amor não fosse mais sentimento, mas apenas uma negociação bem-feita? Em “Amores Materialistas”, a cineasta abandona a sutileza do longa anterior e mergulha em um olhar direto e até debochado sobre a forma como o capitalismo molda e distorce nossos relacionamentos.
“Amores Materialistas deixa sensibilidade de lado para tratar amor como negócio.”
A trama gira em torno de Lucy (Dakota Johnson), uma casamenteira que transforma relações em contratos. Trabalhando para uma agência que lucra milhões conectando clientes com potenciais parceiros, Lucy organiza encontros e entrevistas em que tudo é mensurado: aparência, profissão, renda anual. O amor, aqui, tem planilha e KPI.
No meio desse universo milimetricamente calculado, Lucy reencontra o ex, John (Chris Evans), um garçom e aspirante a ator, e conhece Harry (Pedro Pascal), um milionário que personifica o “match ideal”. E é nesse triângulo que a diretora estrutura sua crítica: a estabilidade financeira como novo sinônimo de felicidade afetiva.

(Foto: Divulgação)
Inspirado por experiências reais como observar alguém deslizando freneticamente num app de namoro no reflexo do ônibus, o longa aponta como nossa era transforma conexão em consumo. Ao contrário da promessa dos romances, o foco agora parece ser o retorno sobre investimento: “Quem me trará mais segurança?” substitui “Quem me faz feliz?”.
Com um roteiro direto, a narrativa assume os clichês de comédias românticas para justamente desconstruí-los. Sem longos monólogos ou cenas introspectivas, Song prefere o choque da obviedade. O romantismo é substituído por uma frieza elegante, que deixa o público desconfortável e reflexivo.
A escolha do elenco reforça a crítica: Pedro Pascal, com sua imagem de galã idealizado, e Chris Evans, o eterno “bom moço”, ajudam a construir a ilusão que Song quer justamente romper. Já Dakota Johnson, com sua doçura um tanto deslocada, oferece um contraste perfeito à frieza do sistema que representa.
Ao final, “Amores Materialistas” não busca dar respostas, mas provocar perguntas incômodas. Será que estamos realmente apaixonados ou só fazendo o melhor negócio?